Com a eminência do esgotamento das reservas de petróleo, a urgência em manter o equilíbrio ambiental, a instabilidade política, as guerras e as altas do barril de petróleo, está-se procurando alternativas para tornar o segmento de combustíveis menos dependente dos derivados de petróleo e, de quebra, buscar produtos ecologicamente corretos.
O “biodiesel” se mostra como uma opção que pode estar no mercado antes do que se imagina”. Esta é uma afirmação do supervisor de Negócios da Embrapa/Dourados, Ademar Roque Zanatta. Segundo ele, com a decisão tomada pelo Governo Federal que autoriza a mistura de biodiesel na proporção de até 2% ao diesel comum, o chamado B2, possibilitará ao Brasil uma economia anual de aproximadamente 160 milhões de dólares em importações e gerará empregos por promover o desenvolvimento desde o setor primário da nossa agricultura.
Ao longo da cadeia, que se inicia no campo – com o plantio, tratos culturais e colheita e passando pelas usinas de processamento até chegar às bombas dos postos -, o processo envolve e remunera muitos agentes.
O QUE É BIODIESEL
O biodiesel também conhecido como diesel vegetal, é constituído de carbono neutro, é um combustível obtido a partir de 80% a 90% de óleo vegetal, 10% a 20% de álcool e 0,35% a 1,50% de catalisador. É biodegradável, não-tóxico e não contém enxofre. Quimicamente é definido como um éster monoalquilico de ácidos graxos de cadeia longa com características físico-químicas semelhantes ao diesel mineral.
A transformação do óleo vegetal em biodiesel passa por “rotas tecnológicas” ou processos químicos de transes-terificação ou craqueamento térmico catalítico. Na transes-terificação um reator realiza a reação química do óleo vegetal com o etanol (rota etílica) ou com o metanol (rota metílica) na presença de um catalisador (hidróxido de sódio ou de potássio), para remoção da glicerina que aparece como um subproduto. São necessários um volume de 10 a 15% de etanol ou metanol para a retirada da glicerina. No craqueamento térmico, um reator trabalhando a altas temperaturas promove a quebra das moléculas e um catalisador remove os compostos oxigenados corrosivos.
Apesar de reunir todas as condições para a produção e o consumo de biocombustíveis, o Brasil precisa queimar etapas para se alinhar com países como a Alemanha, França, Itália e Estados Unidos que utilizam há muito tempo o novo combustível e contam com programas de pesquisas e de implantação. A necessidade que o Brasil tem em mudar as matrizes energéticas partindo para obtenção de combustíveis mais limpos e saindo da condição de país consumidor dependente de um grupo reduzido de produtores de petróleo, está trazendo de volta inclusive uma experiência positiva nesse sentido que foi a tecnologia desenvolvida pelo Brasil para a substituição da gasolina pelo álcool. Já sabemos que o biocombustível é a mais importante alternativa por ser renovável. O alvo das pesquisas no Brasil concentram-se em torná-lo economicamente viável. Além da soja, outras matérias-primas podem ser utilizadas para obtê-lo: o girassol, o algodão, a mamona, o milho, a palma (ou dendê) o amendoim, o babaçu, o coco e, inclusive, o óleo já utilizado na fritura de alimentos.
PAPEL DA EMBRAPA
No Nordeste, a Embrapa em parceria com outras instituições concentram seus esforços na obtenção de biodiesel a partir da mamona. Na Amazônia, o interesse das pesquisas recaem no óleo de dendê. No Rio de Janeiro os testes são com óleo de fritura fornecido por uma grande rede de lanchonetes.
Em parceria com o Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB), a empresa desenvolveu um protótipo para conversão térmico/catalítica de óleo vegetal em óleo diesel vegetal, oferecendo a possibilidade deste óleo ser utilizado em qualquer motor diesel. Na prática, a tecnologia permitirá que o pequeno produtor fabrique seu próprio combustível. A grande inovação do projeto com relação a outros similares que estão sendo desenvolvidos no mundo foi o desenvolvimento de um catalisador que acelera o processo e elimina os compostos oxigenados resultantes do craqueamento (quebra das cadeias das moléculas) do óleo, que são corrosivos e diminuem a eficiência da combustão.
Por outro lado, um processo extremamente simples para obtenção de óleo combustível tem merecido a atenção em todo o país e atraído o interesse de diversos segmentos do agronegócio. O processo consiste na prensagem contínua a frio dos grãos de girassol, seguido de filtragem ou decantação para a separação dos resíduos. A utilização desse óleo na movimentação de motores, em substituição ao óleo diesel, inicialmente apenas por pequenos agricultores e por cooperativas para abastecer comunidades rurais tem avançado rapidamente e já aparece como alternativa em grandes propriedades agrícolas e empresas de transportes urbanos.
Atenta a demanda por girassol, há cinco anos a Embrapa lançou no mercado a cultivar Embrapa 122/V2000. Semente de baixo preço o que torna ainda mais atraente o seu cultivo. O Escritório de Negócios da empresa em Dourados, desde o lançamento, tem sido o responsável pela produção e oferta ao mercado sementeiro.
No Mato Grosso do Sul alguns municípios vem se destacando no cultivo da oleagionosa, como é o caso de Chapadão do Sul. Cabe ressaltar que o rendimento do óleo bruto está relacionado com a qualidade dos grãos assim sendo, recomenda-se que se utilizem grãos de alto teor de óleo (acima de 40 %), em geral com cascas pretas, caso específico da variedade Embrapa 122/V2000. Qualquer um dos modelos de miniprensas do tipo contínua que a indústria brasileira já colocou no mercado consegue extrair e transformar em óleo, por esse processo, cerca de 1/4 a 1/3 do peso inicial dos grãos.